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Jorge Pinheiro, 58 anos, licenciado em Direito, natural de Lisboa.
Trabalhei durante 30 anos na área das Telecomunicações, estando actualmente na situação de pré-reforma. Isto é, pagam-me para ficar em casa. Por isso sou bloguista, músico, escultor, fotógrafo, pintor e escritor. Também me ocupo em várias actividades cívicas e culturais, nomeadamente na MAPA-Associação Cultural e Associação e Moradores de Nova Oeiras (o bairro onde moro). Organizo vários eventos culturais e mantenho activa a minha banda, os “Ephedra” que tocam “jazz-rock. Eu toco vibrafone.
2. Por que você faz o que faz, qual a satisfação que te dá?
Chego à conclusão que trabalho mais do que quando estava na empresa. A diferença é que faço o que quero e não estou dependente disso economicamente. Sou um desinquieto nato e desinquieto toda a gente. Acho que nasci para desinquietar. O gozo que tenho é fazer coisas, organizá-las. Dinamizar pessoas e competências. Não gosto de aparecer em primeiro plano. Gosto que as coisas corram bem. Esse é o meu prazer Sou um perfeccionista moderado e um centralizador disfarçado. A vida ensinou-me que o óptimo é inimigo do bom e que, às vezes, os outros também têm razão.
Sinceramente não tenho grandes ambições. Julgo mesmo que nunca pensei nisso. As coisas vão acontecendo e nós vamos acontecendo com elas. Talvez gostasse de ter tido mais algum reconhecimento musical e gostaria de ter coragem de me dedicar só à escrita, embora me sinta mais “protegido” nesta multidisciplinaridade..
4. Que outra coisa acha que poderia fazer se não fizesse isso? Acredita na idéia de vocação (“Nasci para isto”)?
Não, não acredito. Eu poderia ser qualquer coisa. Desde cientista a agricultor. Se há algum condicionamento terá que ver com o período da adolescência. Tem muito a ver com a dinâmica social que criamos nesse período (quem conhecemos e com quem nos damos) e também com a educação que temos (mais aberta, mas espartana, mais liberal, mais atávica, mais moderna).
5. Que outra coisa você não suportaria fazer?
Neste momento, detestaria ter um trabalho com horários e ter de andar, obrigatoriamente, em filas de trânsito. Isso foi o que ganhei ao sair da empresa. Agora o que detestaria mesmo fazer era de ter qualquer ocupação ligada a armas (tropa, polícia,etc)
6. Você se preocupa com a transcendência do seu trabalho? Gostaria de alcançar a fama e a glória?
Não. Acho, sinceramente, que é tudo muito éfemero e ter a pretensão de querer essa transcendência é mais uma vez querer ultrapassar a morte. E ela é inultrapassável. Temos de a encarar de frente e a melhor forma (para mim) é não pensar nisso. Noutra acepção, fama e glória dão dividendos imediatos: o ego que se envaidece; o dinheiro e o consumo associado; as mulheres… Confesso que um pouco de fama não faz mal nenhum, desde que se seja inteligente e se mantenha a relativização das coisas. Pior é, sem dúvida, sermos uns frustrados.
7. Você acha que gênios existem? De onde vem sua capacidade especial?
Não acho que os génios existam. Há condições que fazem emergir pessoas que estão no lugar certo no momento certo. E também há muita confusão entre loucura e genialidade.
8. O que é a arte para você?
Arte é tudo aquilo que resta depois deixarmos de sonhar.
Sou inspirado pelo momento, pelo sítio e pela oportunidade. É um “flash” que cai sobre mim e me pôe a sensibilidade a trabalhar. Fico agarrado e sei que fico, por isso sei que estou inspirado.
10. O que você está lendo agora? Qual o livro preferido em sua biblioteca?
Eu estou sempre a ler várias coisas ao mesmo tempo. Leio muita História. Gosto de ler vários livros segidos sobre o mesmo tema histórico para avaliar as interpretações. Não gosto História sob a forma romanceada. Neste momento estou a ler “o Coração do Rei”, de Iza Salles, sobre o nosso D. Pedro IV, I do Brasil e a “Grande Guerra pela Civilização”, de Robert Fisk. O meu livro preferido é “Margarita e o Mestre”, de Mikhail Bulgakov. Já o li mais de dez vezes e continuo sempre a descobrir novas camadas de interpretação. Inserido na corrente da chamada “ literatura fantástica”, é um livro espectacular, escrito nos anos 40 do séc. XX, em pleno período estalinista. Tem uma descrição sobre o julgamento de Jessus alucinante. Foi um livro que li nos anos 70, na sua primeira edição, e que me marcou decididamente. Desconfio que a ele devo a tentação de escrever e o meu estilo é por ele influenciado.
11. Como é seu processo criativo? Quanto tempo passa desenvolvendo uma ideia?
Sou muito espontâneo, por um lado (o tal “flash”). Por outro lado, ando sempre a pensar nisso (pelo menos subconscientemente).
12. PC, MAC ou lápis e papel? Por quê?
PC e papel, com caneta azul. Escrevo melhor directamente no PC. Mas as ideias surgem em qualquer lado. Por isso sou o homem dos caderninhos e papelinhos com esboços de todo o tipo.
13. Blog, Fotolog, Orkut, Facebook ou Twitter? Por quê?
Decididamente Blogue. Texto, fotos, video, tudo cabe lá. Pode dar-se uma forma bem estruturada, cuidada, didáctica, divertida…. Um Blogue é uma obra. Algo que se pode reler, estudar, analisar. O resto são ferramentas comunicacionais de curto prazo, quase instantâneas. São excelentes para contactos fortuitos ou para quem tem pouca imaginação.
14. Existirmos, a que será que se destina?
Pois… Pergunta sem resposta. Mera evolução das espécies. Ou mesmo engano da natureza. Não sei. Sou ateu e, portanto, tenho a vida muito facilitada nesse aspecto. Quem tem uma religião é que sofre com essas dúvidas.
15. Lo que piensas y lo que dices, es lo mismo?
Absolutamente. O que às vezes é mau. Sou demasiado transparente. A vida, no entanto, ensinou-me alguma prudência e a educação impede-me de ser totamente aberto.
16. Qual o melhor momento do dia para trabalhar? Por quê?
Durante a tarde e “late in the evening”. O meu bio-ritmo matinal é um pouco lento e os sentidos ainda estão a dormir.
17. Qual seu site preferido?
Francamente tenho inúmeros. Não consigo identificar nenhum que “ganhe” aos outros de forma definitiva
18. É necessário muito treinamento técnico para exercer sua profissão?
Enquanto músico, sim. Já como fotógrafo menos (isto porque sou um “instintivo”). Como escultor e pintor sou autididata. Agora, o que dá mesmo trabalho é ser bloguista!
19. Você se incomoda que critiquem seu trabalho?
Bem, tudo depende da forma da crítica e de quem critica. Mas reajo bem às críticas, desde que perceba a intenção delas. Ou seja, a crítica malévola ou frívola incomoda-me.
20. Acredita nisso de “não há nada de novo sob o sol”? Você gosta de experimentar e inovar?
Sem dúvida. A nossa vida tende a ser uma rotina de rotinas. Tudo o que inove é bom, até se transformar inevitavelmente em rotina. Porém, a minha capacidade de experimentar tem limites. E um deles é o Medo. Esse é um inimigo que nos acompanha a vida toda e nos faz pensar duas vezes. Estou a falar do Medo e não do medo.
21. Drama ou comédia?
Sem dúvida comédia. É bom rir de tudo e de nós próprios, principalmente. Só assim aprendemos a lidar com a vida e com a sociedade.
22. Houve algum momento que que tenha se dito: “Abandono tudo, não quero mais isso pra mim”?
Não. Não faz o meu género. Eu sou de signo “Virgem”, como já se deve ter percebido.
23. Acredita no conceito de alma, espírito, energia vinculada (ou separada) ao corpo?
Francamente não.
24. Voce já diz “No meu tempo não era assim!” ou “Que maravilha a época em que vivemos!”?
Eu vivo o meu tempo. Não tenho tendência saudosista. Encontro nas memórias uma boa fonte de inspiração literária. Talvez assim afaste os meus fantasmas.
Nem pensar. Mas também não cedo às primeiras. Tenho uma boa dose de frieza e de racionalismo. O pior são aquelas três ou quatro vezes por ano em que me passo!...
Já se percebeu que não vou nisso deus. Deus é apenas Medo da morte.
Obrigada Jorge. Adoro isso de "receber para ficar em casa".